quinta-feira, 22 de julho de 2010

carta aberta , vamos falar de preconceito ?

Você acha natural beijar na boca em público? Eu acho, mas há alguns anos beijar em público era considerado crime contra os costumes em nosso país. Você acha natural uma mulher ter o direito de votar? Eu acho, mas apenas há 78 anos, com restrições, elas puderam votar no Brasil. Você acha natural que um casal possa se divorciar? Eu acho, mas somente há pouco mais de 30 anos o divórcio passou a ser permitido pela legislação brasileira. Você acha natural que alguém seja punido por discriminar e/ou ridicularizar alguém por esse alguém ser negro? Eu acho, mas somente há duas décadas o racismo é considerado crime no Brasil. Você acha natural chamar de adolescente uma criança de 13 anos de idade? Eu acho, mas até o início do século passado alguém com essa idade era considerado adulto em praticamente todo o mundo. Você acha natural que uma mulher possa ser atriz sem que essa arte seja confundida com prostituição? Eu acho, mas nas primeiras décadas do século passado as atrizes brasileiras tinham que ter carteira de prostituta para trabalhar como atriz. Você acha natural que o mundo evolua? Eu acho, mas há pessoas que, infelizmente, se sentem obrigadas a impedir a evolução, são os daltónicos na alma, que enxergam o avanço com cores de retrocesso.



Ninguém é obrigado a nada. Você não é obrigado a nada. Sabe você, você aí que está aí me lendo? Pois é, você não é obrigado a gostar de mim, você não é obrigado a gostar de ninguém. Aliás, quando qualquer coisa se torna obrigatória ela se torna cansativa e, no mundo, na vida, ninguém quer se cansar. O que temos é que lutar para que um dia as coisas se tornem naturais, e, para tal, pode ser necessário que durante algum tempo essas coisas tenham que ser sim exigidas.


É preciso exigir que a gente mude a roupa da nossa alma e da nossa língua: o preconceito precisa sair de moda. Você não é obrigado a gostar, você não é obrigado a apoiar ou incentivar nada. Mas como ser pensante você precisa sim se cobrar refletir sobre por qual motivo você não gosta, apoia ou incentiva. A verdade de todos termos preconceitos não muda o fato de que todos precisamos lutar contra eles, não é porque no mundo existem milhares de doenças que devemos abandonar a busca pela cura de qualquer uma delas.


Os disfarces, os novos modelos da moda do preconceito assustam. São customizados, mas a roupagem é no fundo a mesma. "Não sou homofóbico, só não sou obrigado a gostar de gay" é o novo "Não sou racista, mas filha minha não casa com negro". "Não sou homofóbico, mas não sou obrigado a tolerar gays no meu espaço" é o novo "Não sou machista, mas lugar de mulher é na cozinha". "Não sou homofóbico, eu até converso com gays" é o novo "Não tenho preconceito, até deixo minha empregada comer à mesa". Pouco muda enquanto tudo muda. Só se percebem os extremos. Só acham que é racismo se matam o negro, só acham que é homofobia se matam o gay, e ainda assim a razão evidente pode ficar inconsciente, e a vítima pode se tornar o culpado. É crime chamar o negro de macaco, e também deveria ser crime chamar o gay de veado. Mudam-se os animais, mas a dor e as causas são as mesmas.




Então, eu não sou o "babaca" dessa história. Você não é obrigado a gostar de gays, assim como você não é obrigado a ser preconceituoso. Ambos, são escolhas suas e não obrigações. Vai chegar um dia em que a homofobia será tão absurda quanto prender alguém por beijar em público, impedir uma mulher de votar, não permitir que um casal se divorcie, discriminar negros, chamar de adulto um adolescente de 13 anos, ou confundir atriz com prostituta. Agora até lá alguns terão que exigir respeito. Muito prazer, eu sou um deles. Portanto, até lá não me use como oportunidade para extravasar seus preconceitos, principalmente, em público. Não me peça para me calar. Não seja covarde, eu me assumo, se assuma também. Que fale, mas que fale abertamente.


E, ah, por favor, eu imploro, não faça de mim a solução para a sua medíocre falta de assunto! A festa acabou, combinado (ou não)?

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